03 de Agosto – PRESTE ATENÇÃO ONDE SEU FILHO ANDA

Que tipo de balada seu filho frequenta?

Não dormir enquanto os jovens não chegam é a rotina seguida por muitos pais; escritora critica posturas radicais na fixação de limites 
 
Segundo a pesquisa ”Álcool, vida noturna e aumento da violência” 77,4% dos 380 jovens ingleses consultados bebem ao ir para baladas
Apesar de tanto controle da mãe, Roseli e Leonardo garantem que são melhores amigos: ‘‘Conversamos muito’’
Sexo, drogas e rock-and-roll. Pagode, axé, sertaneja, música eletrônica. Não importa o tom da noite: qualquer balada juvenil é capaz de perturbar o sono de quem só descansa quando escuta a chave de casa arranhar a fechadura. ”Quando o Leonardo começou a sair era eu quem levava ele para todo lugar. Até em boate já fui, mas não ficava com a turma”, confessa a empresária londrinense Roseli Brum, mãe de Leonardo, 21 anos.
De tanto controlar, o filho começou a respeitar os limites impostos pela mãe para não pagar mico na frente dos amigos. ”Eu esperava ele chegar, mas se ele demorava muito, eu ia buscá-lo na festa e ele ficava constrangido.”
Roseli conta que Leonardo começou a dar os primeiros pulos aos 16 anos, em festas na casa dos amigos. ”Em boate eu não deixava ele ir porque não podia entrar”, lembra a empresária, que ainda hoje espera, entre um cochilo e outro, o filho chegar da balada. ”Sempre ligo para saber onde ele está e quando ele chega, eu levanto para ver em que estado ficou depois da festa.”
E apesar de tanto controle, mãe e filho são melhores amigos. ”Temos um bom relacionamento, conversamos muito e ainda consigo convencê-lo a não ir a determinada balada se acho perigoso”, declara Roseli, citando que ela e as mães dos amigos de Leonardo, apesar de não serem amigas, falam a mesma língua. ”Ele já sabe que se a mãe de fulano não deixar, ele não também não sai.”
Perder noites de sono pelos filhos não é só atitude de mãe. Em Londrina, o empresário José Paulo Neri Romero costuma reclamar com o caçula Guilherme, 22, sempre que ele chega em casa à luz do sol nascente. ”Acabo adormecendo, mas durmo preocupado. Minha esposa é que sempre liga pedindo para ele voltar cedo. Ele diz que está chegando, mas nunca chega. Estou sempre dando bronca”, comenta Romero, que nunca proibiu o filho de sair.
Guilherme não reclama do controle dos pais, mas também nunca obedece. Diferente do irmão mais velho, Gustavo, 26, que ”é responsável até demais”, como afirma o pai. ”Já falei para o Guilherme que se ele for pego por causa de bebida ou se bater o carro na balada não é para me ligar que eu não vou buscá-lo, mas se o problema acontecer a caminho da escola ou do trabalho, ele pode contar comigo”, garante Romero.
”A mãe pode até cochilar, mas só dorme quando o filho chega. Eu aproveitava essa insônia forçada para arrumar gavetas, ver uns vídeos”, diz a advogada Sílvia Zomer, mãe dos estudantes Bárbara, 18 anos, e Pedro, de 19, de São Paulo. ”Prefiro dormir menos do que ver minha filha voltar de carona. É preciso ter tempo para ser mãe de adolescente, é preciso estar presente. Dar limites é trabalhoso, mas limite também é uma forma de carinho”, opina.
Na opinião de Silvia, o binômio sexo e drogas, assuntos recorrentes nos diálogos entre pais e adolescentes, foi ampliado por um elemento mais assustador: a violência urbana. ”Meus dois filhos já tiveram o primeiro ‘porre histórico’, muita ressaca no dia seguinte, mas nada fora do aceitável. Bebidas e drogas são relevantes pela forma incisiva como chegam aos jovens, pela facilidade na aquisição e pela liberdade de consumo nos bares e boates. Sei que alguns amigos dos meus filhos são usuários, por exemplo, mas a violência preocupa mais porque não depende só deles.”
‘Vistorie sim, mas discretamente’
A escritora Tânia Zagury, que já lançou 13 livros – dois sobre adolescência – critica posturas radicais na fixação de limites para os jovens. ”Às vezes, o pai permite tudo para não se aborrecer ou porque não tem tempo para monitorar o filho. Outros proíbem tudo, o que também não é saudável, assim como não é bacana frequentar a balada do filho. Fazendo isso, não se dá a ele a chance de se tornar independente. O pai que confia no filho e autoriza a saída também não deve ficar na sala, com a luz acesa, esperando ele voltar. E nem mandar abrir a boca para tentar rastrear se o jovem bebeu. Vistorie sim, mas discretamente. Desconfiança infundada magoa.”
Mestre em educação, Tânia enfatiza que permissividade na infância dificulta a imposição de regras na juventude. ”Se aos quatro anos o filho escolhe o canal de TV, aos 18 ele pegará o carro sem autorização para sair à noite. Os pais devem ter uma meta educacional, uma coerência de atitudes. Não resolve o pai deixar e a mãe proibir. Se não há padrão, o jovem será mais teimoso. Uma boa dica para argumentar é apoiar-se na lei. Por exemplo: menores de 18 não vão a baladas porque é ilegal. Funciona mais do que dizer: ‘eu não ia na minha época, você não vai’. Fica parecendo vingança. Mesmo assim, vai ter choro, cara feia e porta batida. Resistir a um ‘não’ é normal, mas os pais devem manter as regras que acharem razoáveis para a maturidade do filho.”
Psicoterapeuta pela Universidade de São Paulo e psicólogo das agências Elite e L’Equipe, Marco Antônio de Tommaso lembra que a adolescência marca a passagem de uma vida regida pelo princípio do prazer para o princípio de realidade. ”A criança responde pelo prazer, você não a convencerá de que a vacina que dói é boa. Na adolescência, o filho percebe que nem tudo que é agradável pode ser feito, que não é livre para fazer tudo, mas o que é permitido. É uma fase de bombardeio hormonal e contestação. Para alguns, a vontade de extravasar na balada é a forma de auto-afirmação, de buscar a independência – ainda que seja uma busca de modo errado”, analisa.
Para adolescente, o exagero é bacana
Segundo dados divulgados pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), 52,2% dos garotos e 44,7% das meninas de 12 a 17 anos do Brasil já consumiram bebidas alcoólicas. ”O álcool prejudica o desenvolvimento de sistema nervoso do jovem, ainda em formação”, diz a psiquiatra Camila Silveira, coordenadora do Cisa. ”A cultura do álcool fica mais evidente no ensino médio e na faculdade. É como se beber em grandes quantidades fizesse parte naturalmente do contexto das festas.”
”Para o adolescente, o exagero é bacana. É uma fase de experimentações e de experimentar, inclusive, esse estado de alteração pela embriaguez. Tem a ver com a necessidade de ser aceito pelo grupo. Às vezes, trata-se de um comportamento aprendido até em casa”, completa.
Segundo a pesquisa inglesa ”Álcool, vida noturna e aumento da violência”, divulgada pelo Cisa, 77,4% dos 380 jovens ingleses consultados bebem ao ir para baladas. Os resultados sugerem que as circunstâncias em que o jovem bebe é um fator que predispõe à violência. O Cisa dispõe da cartilha ”Como falar sobre uso de álcool com seus filhos”, com orientações para cada faixa etária.

A psiquiatra Vera Zimmermann, do Centro de Referência da Infância e Adolescência, da Unifesp, diz que certos tipos de lazer exigem uma maturidade que não se tem aos 15. ”São eventos de massa, como raves. A multidão está sempre sujeita ao descontrole, o que reforça a confusão natural do adolescente. Sem noção do perigo, fica mais suscetível à violência. A massa tira a identidade, atitudes passam desapercebidas. O jovem tem de sentir que se fizer algo vão saber que fez. O controle externo se perde na massa.”

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